domingo, 3 de abril de 2011

FESTIVAL DE CURITIBA: FELIPE HIRSCH E PAULO MORAES!!!


Pterodátilos/Antes da Coisa Toda Começar

Um dos grandes arrependimentos dos meus anos de crítico foi não ter visto "O Livro de Jó" com Mariana Lima. Ela só entrou como protagonista, ao lado de Matheus Nachtergaele, semanas depois da estreia.

Fui avisado, soube que influenciou e nuançou a interpretação de Nachtergaele, mas deixei o tempo passar e escapou. Em "Pterodáctilos", na Faap, a sensação retorna, diante da extensão, da variedade de seu talento.

Não é uma grande peça. Nicky Silver tem o defeito que sempre se apontou em Neil Simon, americano como ele. Vislumbra a tragédia, mas não suporta e, como se assustado diante da grandeza, foge dela com uma "one-liner", uma tirada.

Vai além de Simon, na verdade; não limita a situação a um drama, como aquele em seus melhores textos. Cai logo na farsa, como suas aparentes inspirações Christopher Durang e Charles Ludlam, este de "O Mistério de Irma Vap".

Nada contra, mas se é para tratar de Aids e homossexualismo, principalmente no contexto original de duas décadas atrás, quando a epidemia destruía artistas em ritmo brutal, a piada não basta. Menos ainda quando avança pelo suicídio.

Para tanto, no palco, são os atores que têm que responder à demanda flagrante por tragédia. E é Mariana Lima quem faz a ponte, de um instante para outro, seguidamente; por exemplo, da plástica para a automutilação.

Sua representação farsesca, ainda que não cause o fascínio familiar daquela, mais estabelecida, de Marco Nanini, parece estar a um passo da queda, da morte. É quem usa melhor o cenário ameaçador de Daniela Thomas, com direção de Felipe Hirsch.

Reflete-se nela por instantes, mais do que nas vítimas expressas da narrativa, o horror.


Outra bela atriz, com uma multiplicidade de talentos, pode ser vista em "Antes da Coisa Toda Começar", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil por mais uma semana, também transferida do Rio.

Rosana Stavis, ao lado de Patrícia Selonk e Thales Coutinho no protagonismo, também salta com maestria entre o drama e o riso e também luta com um texto problemático, no caso, antes uma colagem de personagens e situações do que uma peça.

E é em momentos, em quadros quase encerrados neles mesmos, que ela, os outros atores e a encenação de Paulo de Moraes impressionam mais. Em especial na versão de "I Am the Walrus", canção que, caótica e obscura, sintetiza o espetáculo.

Por vezes se aproxima de um musical. Ambiciona refletir a própria criação em arte, mas, para mim ao menos, fala de amor_e suicídio.


Escrito por Nelson de Sá às 12h00

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