quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ANDRÉA BELTRÃO E MARIETA SEVERO EM: AS CENTENÁRIAS!!!

Parceiras na tentativa de driblar a morte
Na premiada comédia As Centenárias, Marieta Severo e Andréa Beltrão consolidam trabalho ao lado do diretor Aderbal Freire-Filho. Peça estreia hoje no Guairão

Aos 45 anos de profissão, Marieta Severo tem experiência suficiente para afirmar que o sucesso não vem sempre. Portanto, deve ser valorizado quando acontece. Ela se refere ao espetáculo As Cente­­ná­­rias, no qual contracena com An­­dréa Beltrão, sob a direção de Aderbal Freire-Filho (Hamlet), marido de Marieta.

O texto rendeu o segundo Prêmio Shell ao autor, o pernambucano Newton Moreno (Agreste). É um feliz encontro de talentos, que viajam o país motivados pela consagração de crítica e público, obtida desde a estreia, há três anos. Só assim para Marieta quebrar um recesso de uma década sem pôr o pé na estrada com uma montagem teatral.


Marieta Severo: ao lado do marido e da amiga, se motivou para viajar o país com a montagem
Donos do teatro

Amigas há 20 anos, Marieta Severo e Andréa Beltrão se conheceram durante a peça A Estrela do Lar, dirigidas por Mauro Rasi, em 1989. Depois fizeram A Dona da História, de João Falcão, transposta para o cinema.


Em As Centenárias, pela segunda vez as duas são dirigidas por Aderbal Freire-Filho. A primeira foi em Sonata de Outono, montagem do drama familiar de Ingmar Bergman, com o qual o casal e Andréa inauguraram o Teatro Poeira, há cinco anos, no Rio de Janeiro, mantido com dinheiro do próprio bolso e patrocínio da Petrobrás para a programação.


“Sonata era um espetáculo pesado. Não saiu do Rio de Janeiro, pelo cenário difícil de transportar, e porque estávamos inaugurando o teatro naquele dia: abrindo a bilheteria, vendo se tinha papel higiênico no lugar... Não tivemos fôlego depois para sair viajando”, comenta Andréa, satisfeita com o empreendimento.

“Quando a gente acerta em cheio, como nesse trabalho, quer mostrar mais e mais”, diz por telefone a matriarca de A Grande Família, simpática, antes de embarcar para Curitiba, onde fazem uma curta temporada de hoje a domingo, no Guairão.


As Centenárias se inspira na cultura popular nordestina para falar da finitude com inusitado tom jocoso. Marieta e Andréa interpretam duas carpideiras de idade avançada. “É uma comédia com tom circense, nem consigo achar mórbida”, diz Andréa, também por telefone. “Tem um caixão em cena, onde elas pulam e se deitam, dessacralizam, esculhambam. A diversão das duas é enganar a morte sem parar.”


Para Marieta, a graça está nesse pano de fundo “que é o grande embate do ser humano”, abordado de modo debochado e esperto. “Elas acham que o melhor lugar para estar é o velório, onde a morte já passou e carregou seus fregueses, então não volta”, comenta.

Opostas e complementares, as personagens tiveram inspiração nas próprias atrizes. A Newton Moreno, elas pediram uma peça que não incluísse laços familiares. O autor as atendeu e aproveitou a amizade profunda entre as duas para escrever a comédia. Há entre as carpideiras uma relação de aprendizado com a qual Andréa se identificou, pensando na colega. “Aprendi à beça com a Marieta”, diz.

Além do texto sagaz e hilário – palavras de Marieta –, a encenação conta com uma direção presente e inventiva. A marcação se dá como um balé, em busca da expressividade teatral, e em tom circense. Exige muito das atrizes. Elas interpretam suas personagens desde a juventude à velhice, cantam como carpideiras treinadas e ainda manipulam marionetes.


“Cada uma tem seu método – ou seu não método –, mas a gente tem afinidade. Somos muito perfeccionistas, gostamos de perseguir uma temática, estudar aquilo com tara de atleta que quer ganhar mais um segundo”, observa a mais nova das duas atrizes, sobre a parceria que já completa 20 anos, e se repetiu em A Grande Família. “Com a Andréa, a confiança é absoluta e, nessa medida, a liberdade de criar também é enorme”, diz, por sua vez, Marieta.

Há cinco anos trabalhando juntos sem cessar, as duas e Aderbal já se consideram uma minicompanhia. “A situação ideal do teatro é o trabalho de grupo, pela continuidade”, diz Marieta.


Cria de uma geração que teve por modelo grupos como o Teatro Opinião e o Oficina, ela pegou uma fase de hiato, quando as companhias se esfacelavam no pós-AI 5, e reinterpretou o modelo buscando, ao longo da carreira, travar parcerias constantes, com diretores e autores como Naum Alves de Souza, Mário Borges e Pedro Paulo Rangel.


Com As Centenárias, os três têm conseguido essa continuidade almejada. No ano que vem, o espetáculo deve ir ao Nordeste.
Mantê-lo em repertório por três anos traz o risco do automatismo, como Andréa reconhece. “Mas, para nós, a reconquista do frescor, apesar de ser a milionésima vez, é como surfar em onda gigante: Uau!”, exclama.


Serviço:

As Centenárias. Guairão (Pça. Santos Andrade, s/n.º), (41) 3315-0979. Dias 7, 8 e 9 às 21h e dia 10 às 18h. R$ 40, R$ 32 (assinantes da Gazeta do Povo e portadores do cartão Teatro Guaíra) e R$ 20.
Publicado em 07/10/2010 Luciana Romagnolli

Nenhum comentário:

Postar um comentário