Qualidades de As Centenárias
Publicado em 09/10/2010 Luciana Romagnolli
Marieta Severo e Andréa Beltrão são quase tão conhecidas e queridas quanto competentes. Por isso, a recepção morna do público curitibano ao espetáculo As Centenárias, na estreia da curta temporada que segue até domingo no Guairão, faz pensar se há resistência à cultura popular nordestina, retratada na peça do paraibano Newton Moreno.
O dramaturgo enveredou por costumes e tradições de um interior pobre para criar a fábula sobre duas senhoras carpideiras que ludibriam a morte. Na essência, trata da difícil aceitação da finitude humana – do medo de morrer e, antes, de perder.
A abordagem troca a seriedade do assunto pela naturalidade. E daí para o deboche e o humor, inclusive escatológico (aquele que diz respeito ao “menos elevado” da condição humana), é um pulo. O autor faz de cada neologismo motivo de graça, entretendo enquanto encara, como as personagens, o inevitável.
A encenação se apropria da riqueza cultural daquele universo criando um caos organizado, no qual bonecos pendurados no cenário são aproveitados como defuntos, marionetes multiplicam possibilidades de contracenação entre personagens, a música dá ritmo à movimentação e o jogo teatral fica mais complexo e divertido.
Nada disso seria o bastante não fosse a segurança das duas atrizes. Elas modulam a voz, rearranjam a postura corporal e o andar como senhorinhas. Cantam no tom choroso particular das carpideiras. Empregam todos os recursos que têm para dar vida às personagens espevitadas, distantes de tudo o que se habituou a vê-las interpretar.
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