domingo, 21 de março de 2010

CIA ÓPERA SECA NÃO AGRADA AO PÚBLICO!!!


Os atores fazem tudo em Travesties

Parte do público foi embora ontem à noite no intervalo de Travesties, montagem da Companhia de Ópera Seca para o texto de Tom Stoppard com três horas de duração.

O intervalo impagável para uns e bizarro para outros começou quando as cortinas se fecharam e uma mulher carregando um livro pesado surgiram na bancada ao lado do palco. Ela se apresentou como integrante do grupo que estava acompanhando a peça da coxia. “Eu estava agoniada porque não estou entendendo nada”, disse. Tudo parte da brincadeira. Enquanto alguns levantaram e foram aproveitar o intervalo incentivados pela atriz – “Vão, podem ir, eu não vou me ofender”, disse –, várias pessoas permaneceram sentadas a ouvindo ler um texto sobre Karl Marx.

Abordada pela Gazeta do Povo, uma professora da Universidade Federal do Paraná que preferiu não se identificar disse que conhece o texto de Stoppard e que a adaptação da Ópera Seca era “péssima”. Ela fez o comentário e saiu andando rápido como se estivesse ansiosa para se afastar do teatro.

A piada feita pelo próprio grupo não é sem motivo. O texto de Stoppard é uma farsa que abarca uma quantidade grande de referências, de A Importância de Ser Prudente, obra de Oscar Wilde, até a vida de Lênin na Rússia pré-revolução.

Travesties discute o papel da revoluçãoSe a intenção de Stoppard e do diretor Caetano Vilela era discutir, entre outras coisas, o papel do artista na sociedade (e o da revolução nas artes), o raciocínio concatenado pelos personagens não foi dos mais otimistas.

Na “melhor parte do espetáculo”, para usar a expressão de Rodrigo Lopez (o Tristan Tzara da história), os atores interrompem a ação para falar com o público. “Quem é um artista em Curitiba?”, perguntaram. A plateia em silêncio. “Vamos, gente, participem. Quem é um artista em Curitiba? Diogo Portugal?”, brincou.

“Paulo Leminski!”, alguém gritou da público.

“Leminski? Não conheço”, rebateu Lopez/Tzara.

A cenografia tem elementos ousados. Uma biblioteca é simulada por pilhas de livros que pendem do teto amarradas em barbantes e encalhes de jornal (da Gazeta!) servem de assento para Henry Carr (Germano Mello), o homem que vive em Zurique e convive com pessoas de fato – como a bibliotecária e a irmã –, mas parece ter problemas de memória que o colocam frente a frente com personagens célebres da História, como o artista Tristan Tzara (integrante do movimento dadaísta) e o escritor James Joyce (autor de Ulisses ridicularizado um sem-número de vezes pelo texto, aparece como alguém desesperado por algumas moedas).

Como acontece em farsas teatrais, informações importantes são entregues ao público na forma de piadas. Mello encarnava às vezes o comediante John Cleese, do grupo Monty Python. Os atores, sem dúvida, são a melhor coisa de Travesties. Eles parecem capazes de fazer o que quiser no palco.

2 comentários:

  1. Gente, vamos combinar: Dalton Trevisan nos fala muito sobre o caráter medíocre da classe média curitibana. Despolitizada, mal-informada, inculta. E se acha européia. Tem índices de homicídio da África e se acha européia. O Festival de Teatro é um negócio para arrancar dinheiro dos artistas e fazer vitrine para engambelar os que acreditam em propaganda. O Festival de Teatro que poderia ser parte de uma política pública de cultura pra cidade, virou um negócio. Mais uma forma de arrancar mais-valia, agora dos artistas. Quando tivermos uma administração que pense a cultura como política de estado, talvez o Festival seja o que poderia ser. Arte. com apoio do EStado. como é em todo país que quis ser civilizado. Aqui tudo vira um negócio. Desde a comida das crianças das creches que passaram a comer comida industrializada, até o Festival de Teatro que está todo nas mãos dfe mercenários do mercado da arte. Assim, minúsculo mesmo.

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  2. A peça é exigente demais pra esse tipo de público acostumado com "A Gorda e o Anão", " A Tarada do Boqueirão" entre outras. Ali, tudo estava em harmonia desde a atuação, iluminação...passando pela cenografia, figurino. Impecável.

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