domingo, 21 de março de 2010

O DESRESPEITO COM O GRUPO DELÍRIO E SEU DIRETOR EDSON BUENO!!!


A ETERNIDADE E UM DIA

OK! Nós, do espetáculo “A Vida Como Ela É Nelson Rodrigues” já tínhamos percebido que os ingressos do Festival de Curitiba, vendidos na bilheteria, anunciam o TEUNI – Teatro Experimental da Universidade Federal do Paraná (onde apresentamos o espetáculo), como estando localizado na Reitoria e não na Praça Santos Andrade, onde está mesmo. Qual o problema? O público vai até lá e depois de descobrir o engano, vem até aqui. Chegam, normalmente, alguns minutos atrasados, por conta do detalhe. Durante as apresentações, temos contornado a situação começando alguns minutos depois para que o público tenha tempo de se acomodar. Acontece que, neste sábado, a apresentação de “A Vida Como Ela É”, estava marcada para 23 horas! E diante do problema dos ingressos, mais ou menos 30 pagantes chegaram ao teatro entre 23h01 e 23h08! E se depararam com a burocracia! Lembram um personagem de um desses humorísticos antigos que dizia em alto e bom tom “Ordis é ordis!”? Pois o cara transmutou-se no vigilante na portaria da Universidade Federal do Paraná. Tinha ele ordem de seus superiores, de que chova ou faça sol, trema a terra ou toquem os tambores, ele deve passar a chave na porta do monumento curitibano, pontualmente às 23 horas, e estamos conversados. Trinta coitados que subiam as escadas e estavam a centímetros da porta, deram com a cara no vidro, enquanto o zeloso vigilante virava a chave exatamente às 23 horas. “Nem um segundo a mais, nem um segundo a menos”, como o funcionário padrão adorou afirmar. E começou a epopéia do sábado à noite. Eu, o diretor do espetáculo, estava no palco organizando o início da função, enquanto o público gritando de ódio, ameaçava derrubar a porta centenária e o vigilante, impassível, nem dobrava a sobrancelha. Alguém chamou a polícia, que como não era acidente, nem assassinato, nem roubo, chegou em minutos. Um sargento, um cabo e um soldado, mais uma viatura escandalosa que iluminava o giroflex, embelezando mais ainda a fachada de nossa Universidade Federal do Paraná. Alguém, penso que o vigilante, explica aos representantes da lei que a responsabilidade era da peça de teatro, que não pediu autorização para que as portas da Universidade ficassem abertas mais cinco ou dez minutos. E eu, claro, sou chamado à portaria. Chego lá e é um pandemônio de gente indignada. Alguém grita: “Olha aqui, tem uma senhora de 75 anos que não pode entrar!” E a senhora de 75 anos rebate: “Não grite a minha idade em público!” E segue a conversa. O sargento da polícia militar me encara e me chama às barras da lei por causar aquele transtorno. Eu, entre pasmo e incrédulo exclamo: “Querido, você não está entendendo, a responsabilidade é do Festival, não minha!” Atentaram para o detalhe do “querido”? O policial virou os olhos e eu rezei para que alguma força cósmica fizesse o tempo voltar atrás só por alguns segundos quando eu retiraria o adjetivo, conservando a frase intacta. Mas o tempo não voltou e por consequência, fechou mais ainda. O digno policial, que não estava entendendo nada e de teatro deve entender menos ainda, resolver efetuar uma operação mental que levava em consideração o poder federal (A Universidade), o poder estadual (ele) e o poder municipal (a prefeitura, patrocinadora do evento) e continuou achando que a culpa era minha. Passo a mão no telefone e ligo para o Leandro Knopfolz, dono do festival. Ele aciona suas mãos direitas e elas, em breve deveriam aportar nas escadarias revoltadas. Chega o Diretor do Teatro. Segue-se o diálogo com o segurança:



Diretor - O que está acontecendo?

Segurança – Nós temos ordem de fechar às 23 horas. Ligamos para o Sr. Fulano (o chefe dele) e ele disse que era para seguir a ordem.

Diretor – O Fulano está de férias, quem responde por ele é Sicrano! E eu falei com o Sicrano e autorizei que entrassem pessoas nos espetáculos depois das 23 horas.

Segurança – Então eu falei com Sicrano, mas a porta não abre.



O Diretor resolve telefonar para o Sicrano. Segue a conversa ao telefone:



Diretor - Sicrano? Como é que você impede o público de entrar no teatro? Eu telefonei solicitando...

(Sicrano fala alguma coisa)

Diretor - Sim, eu não liguei pessoalmente porque eu tinha terapia, mas pedi para a Beltrana ligar. Ela não ligou?

Sicrano responde, provavelmente que não. E o Diretor desiste de continuar falando com ele.



Chega o braço direito do Leandro, uma senhora de cabelos curtos e pose de sargento da polícia militar. Olha profundamente nos MEUS olhos e atira:



- O que está acontecendo?



Eu respondo tudo e ela vai falar com o público revoltado. E resolve a parada à sua maneira. Troca todos os ingressos vendidos por convites para que as pessoas possam assistir “A Vida Como Ela É” em outra apresentação do Festival.

Tudo dura ainda muito tempo e blás-blás-bás, até que uma hora e vinte minutos depois todos se despedem e eu fico na escadaria da Universidade Federal do Paraná fazendo uma suave reflexão sobre o autoritarismo e a falta de respeito.

Resumo da ópera? Vamos lá.

Um simples incidente de incompetências, desmandos e falta de comunicação revela que somos, realmente filhos do Terceiro Mundo e nossa Curitiba (como diz o próprio Leandro Knopfolz) não passa de uma roça iluminada.

O autoritarismo começa com os seguranças sem o menor bom senso de deixar a porta aberta mais 5 ou 10 minutos. Depois a polícia que vai procurar o responsável justamente no mais fraco (eu!) que não tem qualquer ligação direta com governos. E finalmente, o pior de todos os desmandos, o do próprio Festival de Curitiba. Por quê? Para se livrar do problema, a sujeita responsável, vai distribuindo convites para o meu espetáculo, sem sequer me consultar, ou seja, os 30 convites que ela distribuiu sem minha autorização, vão tomar o lugar de 30 pessoas que comprariam para assistir “A Vida Como Ela É”. Na prática, ela me lesou em aproximadamente R$ 600,00 e nem sequer me deu boa noite ou pediu desculpas pelo incidente que é de responsabilidade do Festival (que emitiu os ingressos com endereço errado) e da Universidade (que não tomou as providências de forma correta). Isso num Festival onde eu paguei uma taxa para apresentar e pago uma porcentagem de 20% da bilheteria. Se não tivesse pago a taxa no banco, rigorosamente no dia determinado, nem estaria participando do evento. Todos foram embora para casa com a sensação de dever cumprido e o público com a sensação de ter sido injustiçado. E eu fiquei sozinho na escadaria da Universidade Federal do Paraná, louco de vontade de colocar uma bola vermelha no meu nariz e cantar “Ria, palhaço!”. Enfim, no grande Festival de Curitiba o que menos interessa é o artista! Pelo menos, parece.



Escrito por Edson Bueno às 11h23

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