quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CLAUDIO CUNHA DESABAFA A RESPEITO DO MINC!!!


SERÁ O MINC A BOLA DA VEZ?


Cláudio Cunha, produtor cultural: Será o MINC a “bola da vez”?!

Tenho 45 anos de produção cultural em cinema e teatro, produzindo sempre com recursos próprios. Nos últimos 8 anos as dificuldades aumentaram: a Cultura vem sendo tratada como “quitanda”: teatros com cauções altíssimas, mídia caríssima; falta de patrocínios; gasolina; pedágios; etc. Assim, atraído pelas fartas verbas que vem sendo destinadas a Cultura - das quais nunca vi um tostão – resolvemos procurar a ajuda do Estado, com a convicção de que seria merecida: para o Cinema produzimos onze longas-metragens – dirigi oito – e 16 curtas. Para o Teatro produzimos 12 peças teatrais e outras 10 adaptações do personagem “O Analista de Bagé”, reeditando nos palcos o sucesso literário de Luís Fernando Veríssimo. Em 1998 fomos parar no Guinness Book com dois recordes nacionais: a peça há mais tempo em cartaz e eu como o ator há mais tempo num personagem! Pelos critérios de pontuação apontados nos Editais, seriamos “selecionados” em todos. Desculpem alguma imodéstia, mas basta alguns “cliques” na Net para comprovar.
Na maior boa fé, demos um tempo nas nossas turnês, aplicando nossas reservas nos editais culturais do Governo. Era edital que não acabava mais! Dinheiro a “dá com pau”! Entramos em todos que tínhamos direito. Trabalhão danado! O projeto pronto dava um “calhamaço” de papeis. Na hora de levar pro correio, maior peso. Sem falar no custo dos sedex. Tinham “editais” que chegavam a pedir 8 exemplares, um para cada “analista”. O Renato Papa, dinâmico produtor teatral comentou: “Eles nem lêem!” Contou-me que num Edital que participou entregou dois exemplares do projeto com algumas folhas estrategicamente “coladas”. O mesmo foi recusado e devolvido, as folhas estavam lá, “coladinhas!”! Não acreditei! “Ta querendo eliminar a concorrência, cara?” Ele replicou: “Você está na estrada “ta” por fora”! Maior “marmelada”, somos usados sem o menor pudor, tudo em nome da tal “transparência”! A palavra esta no site de todo o Ministério, e a corrupção reina na maioria! Concordei, triplicando: “Só espero que a “bola da vez” não seja o MINC, ainda mais agora que estamos entrando nos Editais”! Do discurso político não tinha como discordar: queda de Ministros virou rotina! O resto “levamos” na “piada”. Os editais nos inspiravam confiança! Vários “itens” de exigências: objetivos, justificativas, cronogramas, mapas de publicidade, lançamento, orçamentos, certidões, comissões formadas com o maior rigor para julgar os projetos, etc. Os objetivos dos Programas Culturais nos deixavam otimistas: eram os mesmos que aplicamos em toda a nossa vida profissional. Só com o Analista temos historia: foram 30 anos me vestindo de gaúcho pra ganhar a vida – sou paulistano - apresentando-me tanto nos melhores teatros como improvisando “espaços”, levando teatro para cidades que nunca viram teatro, formando públicos e profissionais da área. “Vai ser muita cara de pau nos deixarem de fora”!

A Chamada Pública da FINEP, dava-nos a oportunidade de realizar um antigo sonho: Voltar ao Cinema! Tínhamos aprovado no Ancine, para uma captação de 4,5 Milhões, remake de “Amada Amante”, nosso maior sucesso nas telas, assistido por mais de 6 milhões de espectadores. Não chegamos nem na chamada oral! Eram três “pareceristas” dois deles nos aprovaram em todos os quesitos, o “parecerista” do Ancine, o único a dar notas que deveriam se baseadas no consenso geral, nos derrubou em todos os quesitos. Num deles - deu nota 3 para nossa Empresa - contrariando a própria Comissão de classificação do Ancine, que nos classificou no Nível 7, o mais alto, o que quer dizer que podemos pensar em projetos orçados em até 36 milhões para captação! O que é um sonho! Lei Rouanet é “loteria.” Muito difícil a captação! Até os medalhões que desfilam nas novelas do horário nobre reclamam! “Será que é o fato de estarmos afastados das câmaras há 30 anos?” Recorremos a decisão, entregamos o projeto cinematográfico a uma empresa especializada em captação, concentrando nossos esforços na nossa área atual de trabalho: Teatro.

“A Petrobras Distribuidora publicou um edital que era a nossa cara: CIRCULAÇÃO DE PEÇAS TEATRAIS”. “Opa! Somos os maiores mambembes deste país”! Ao procurarmos nosso nome na lista dos contemplados o choque foi dobrado: Não estávamos lá e tampouco conhecíamos os vencedores e olha que no meio artístico conhecemos todo mundo. No edital de ocupação dos espaços culturais do Banco do Brasil entramos com o projeto “O Riso sem Limites”. Ali aconteceu outra contradição: Os “analistas” do MINC, aprovaram o projeto na Lei Rouanet autorizando uma captação de R$ 508.300,00. Os “analistas” da área Cultural do Banco do Brasil, recusaram o projeto: “Será que o fato de produzirmos sem a ajuda do Estado e as expressivas bilheterias que fizemos, estejam contando negativamente em nosso currículo? Ou será a falta um grande projeto?”

Em 1998 investimos cerca de 20 mil dólares na aquisição dos direitos autorais do livro “O MUNDO DE SOFIA”, do norueguês Jostein Gaarder. O livro na Europa rendeu um longa-metragem e uma adaptação musical. Foi traduzido para 50 idiomas, inclusive dialetos africanos e chineses, recomendado nas Escolas de todo o Mundo. Na época compramos também os direitos da adaptação musical dinamarquesa. Os direitos haviam vencidos: “Se conseguirmos renová-los será o maior projeto do Teatro Brasileiro”. Imediatamente entramos em contato com os autores e conseguimos o feito, em seguida entramos com o projeto no MINC para aprovação nas leis de incentivo. Aberto o Edital de Fomento ao Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, com a adesão de profissionais com currículos de se tirar o “chapéu”, entramos com o projeto! Agora pasmem: “O Mundo de Sofia”, segundo o prestigioso New York Times “o maior fenômeno editorial do final do ultimo século”, bem como as belíssimas músicas da adaptação musical européia, perdeu para nada mais nada menos que 19 projetos indefinidos, obscuros. Não se sabe nem o nome dos autores, nas listas dos “selecionados” publicada no site da SMCSP, apenas os nomes das companhias – lembrando grupos de “pagode” – e o nome dos projetos. Em comum o fato de serem todos representados pela Cooperativa Paulista de Teatro! Não vamos falar da nossa história, tampouco dos respeitáveis profissionais que aderiram ao projeto, mas que “julgadores” são esses que trocam o certo pelo duvidoso? A perplexidade aumentou ao investigarmos as Edições anteriores da citada premiação. Os projetos “selecionados” são sempre os pertencentes a associados da tal Cooperativa, que fica com maior parte do bolo, já que os “eleitos”, sem CNPJ, dela dependem para executarem seus projetos, normalmente apresentados para “cadeiras vazias” em teatros de Autarquias beneficiados por outras “mamatas”.

O Edital de ocupação dos Teatros da Caixa Econômica Federal estava aberto. Aproveitamos o “embalo” e entramos com “O Mundo de Sofia”. Novamente o certo foi trocado pelo duvidoso. Outro “chumbo”!

O Edital do Premio Procultura 2010, MINC/FUNARTE, na área teatral nos animou. Parecia ser criado para produtores culturais de fato. Entramos com dois projetos, um na área infantil: “O ESPANTALHO E A MELANCIA” e outro na área adulta, onde temos um público cativo: “O RISO SEM LIMITES”. Nenhum dos dois foi selecionado. Nova decepção e nova contradição, dessa vez entre os “Analistas” do MINC, - já que o projeto foi aprovado para uma captação de R$ 508.300,00 na Lei Rouanet - e os “julgadores” do prêmio. O mais curioso ainda é a repetição da coincidência: os 13 projetos selecionados de São Paulo pertenciam todos à Cooperativa Paulista de Teatro.

As confusas (?) informações no site da FUNARTE acabaram nos confundindo e perdemos o exíguo prazo de 5 dias para a entrega do recurso, fato que se repetiu com o Premio Myrian Muniz do qual vamos falar nas linhas que se seguem. Perder o prazo do recurso foi outra “paulada”, apesar da consciência que o mesmo só existe para cumprir o “ritual”, mas nossos argumentos eram fortes, sabemos também que isso de nada adiantaria. O recurso feito a FINEP, por ocasião da desclassificação do projeto “AMADA AMANTE”, foi indeferido junto com todos os demais recursos, numa ata curta e grossa. E olha que o nosso trazia o aval da poderosa Paris Filmes, nossos parceiros em outros tempos, onde numa carta mostravam confiança no nosso trabalho e o interesse na distribuição do filme.

Tínhamos entrado em outros dois Editais da FUNARTE. Um deles era o da Rede Nacional Artes Visuais 8ª Edição, com o projeto “DA IDÉIA A TELA”, cuja proposta era um Semanário na cidade de Vitória do Espírito Santo, onde falaríamos sobre Cinema Brasileiro, ilustrado pela exibição de filmes de nossa produção. A verba era pequena, trinta mil reais para o projeto. Tínhamos como parceiros a Ratimbum, tradicional produtora de eventos ali sediada. Perdemos para ilustres desconhecidos.

Nossa última esperança era o PREMIO MYRIAN MUNIZ 2011, onde concorríamos com “O MUNDO DE SOFIA”. O projeto fortalecido pela aprovação dos “Analistas” do MINC, com uma captação autorizada de 2,5 Milhões pela Lei Roaunet. A ficha técnica reforçada com a adesão de dois nomes fantásticos: Paulo César Medeiros, considerado “O Mago da Luz” e o premiadíssimo cenógrafo José Dias. Perdemos no modulo a que concorríamos para nada mais nada menos que 50 projetos. Foram escolhidos 11 projetos de São Paulo, todos representados pela Cooperativa Paulista de Teatro. Como das outras vezes, nos outros estados a premiação foi diversificada.

“Que projetos e profissionais maravilhosos são esses que reúne a Cooperativa conseguindo “abocanhar” todas as verbas de fomentos que vem para São Paulo?

Dentro da lei das possibilidades, podemos dizer que é possível que isso aconteça, mas dentro da lei das probabilidades, é certo que não é provável, portanto é possível mais não é provável. Pergunto aos leitores: Não seria até de bom alvitre que os vencedores paulistas não pertencessem a um só organismo, mas sim obedecessem a mesma regra lógica dos vencedores de outras cidades brasileiras, ou seja, uma seleção democrática, não centralizada em um só organismo?

Indignado, foram horas diante do computador perdendo tempo e dinheiro num jogo de cartas “marcadas”, procurei ouvir algumas opiniões e dentre elas a do Dr. João Luiz Di Lorenzo Thomaz, mestre em direito, em São Carlos, interior paulista. Fã do nosso trabalho tornou-se amigo: “Os princípios dos Editais são regidos pela lei de licitação, conforme o art.22 da Lei 8.666/93. Portanto devem ser analisados da forma mais objetiva possível, obedecendo ao sagrado princípio da isonomia constitucional que norteia a contratação de particulares com a administração pública, devendo os projetos serem julgados dentro dos princípios básicos da legalidade, da moralidade, da probidade administrativa”.

Ao terminar, solicito a todos os brasileiros uma analise e profunda reflexão dos fatos. De minha parte estou pondo a boca no “trombone”, não só como protagonista desta triste história mais também como contribuinte! Como profissional continuo na luta para produzir o espetáculo seguindo o amargo caminho da “captação”. Não é justo pagarmos por dívidas de campanha política em detrimento a Cultura, privando os brasileiros de obras de inegável valor como “O Mundo de Sofia”. Há muitos anos trabalhada na língua portuguesa por este profissional de larga experiência. Aos colegas lembro a frase do comandante alemão Erwin Hommel (A Raposa do Deserto): “Soldado entrincheirado não morre mais também não ganha a guerra!” Eu vou a luta, morro de espada na mão. Aos que acharem que estou certo agradeço a divulgação deste depoimento. Obrigado.

Cláudio Cunha
Produtor Cultural Independente

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