domingo, 13 de fevereiro de 2011

CENTRO CULTURAL TEATRO GUAÍRA EM SITUAÇÃO DELICADA!!!


O desafio de salvar o Guaíra
A nova diretora-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, Monica Rischbieter, assume o cargo com inúmeros problemas para resolver, da reforma do prédio à Orquesta Sinfônica e ao balé

Publicado em 13/02/2011 | Marcio Renato dos Santos

A Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) já tem um novo maestro, o português Osvaldo Ferreira, que desde 2008 dirige a Oficina de Música de Curitiba. Essa nomeação foi o primeiro ato de Monica Rischbieter à frente do Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG). Ela assumiu o cargo sabendo da imensa expectativa da comunidade e da classe artística quanto a sua gestão. Há pouco mais de um mês no posto, Monica conta já ter percorrido, acompanhada de técnicos, por três vezes os incontáveis corredores do prédio, e tem uma lista de problemas que terá de resolver. Ela diz que há 500 portas no Teatro Guaíra. Não é exagero dizer que uns 500 desafios a esperam em um breve espaço de tempo.

Restaurar o prédio é uma das metas, a começar pelas poltronas do Guairão e do Guairinha, além da troca do carpete e da reforma dos camarins. Mas, para que essas ações aconteçam, será necessário encontrar parceiros, possivelmente da iniciativa privada. A diretora-presidente anuncia que, para 2011, não há verbas – o que ela encontrou no caixa garante o pagamento dos salários dos 300 funcionários e da manutenção do prédio funcionando como está. “Pelo fato de o Teatro Guaíra ser um espaço importante, não será difícil encontrar parceiros para um restauro. Só não sei como isso será feito”, diz.

A sessão de fotos de Mônica para esta reportagem, incluindo as que estão publicadas nesta pá­­gina, foram feitas em alguns lo­­cais dentro do prédio, e e ela sugeriu que a entrevista fosse realizada na escadaria, entre o primeiro o segundo balcão do teatro. Não seria possível conversar na plateia, uma vez que o palco estava ocupado por dezenas de universitários que ensaiavam para uma cerimônia de formatura. Esses eventos, que acontecem em janeiro e fevereiro, são uma fonte de renda para a instituição – o aluguel do auditório custa, em média, R$ 20 mil. Além disso, a locação do espaço para shows é outra fonte de recursos, que será fundamental neste ano de vacas magras.


Cinema para depois

Monica Rischbieter desligou-se, oficialmente, da produtora de audiovisual WG7. “Não dá para atuar com seriedade no governo mantendo vínculos com a iniciativa privada. Além disso, as duas atividades exigem dedicação exclusiva, e agora estou mergulhada no Teatro Guaíra”, afirma.

Escudeiros

A diretora-presidente conta com um braço esquerdo e outro direito, respectivamente, Ricardo Linhares, diretor administrativo, e Mara Moron, diretora artística. Além disso, ela comenta que, sem a equipe técnica, seria impossível trabalhar no Teatro Guaíra. “Há funcionários concursados muito bons por aqui”, diz.

Carência

Apesar de estar rodeada por profissionais competentes, Monica admite que a instituição precisa de porteiros, bilheteiros e técnicos de palco. A Secretaria da Administração, que já foi avisada sobre o problema, pode viabilizar a contratação de mão-de-obra.

Reforma

O Guairinha, considerado um dos melhores auditórios do estado, está em péssimas condições. Ano passado, durante o Festival de Curitiba, após o encerramento de In on It, uma das montagens mais festejadas do Brasil, o ator Fernando Eiras passou mal devido ao mofo no auditório, e o outro ator da montagem, Emílio de Mello, fez um discurso cobrando do poder público uma reforma do espaço, deteriorado do camarim ao saguão, incluindo os banheiros. Monica diz que já solicitou a presença de técnicos da Sanepar no local, com a finalidade de articular um plano de ação para realizar as obras necessárias para resolver o problema já histórico, inclusive no que diz respeito ao odor provocado pelo Rio Ivo, que passa por baixo do auditório, sobretudo em temporadas de chuva.


“Minha missão é restaurar o prédio, retomar a produção de montagens e, acima de tudo, promover esse centro cultural que ficou um tanto abandonado nos últimos anos.” Monica Rischbieter, diretora-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra

Gerar conteúdos

Os dois corpos estáveis do CCTG, a Orquestra Sinfônica e o Balé Guaíra, vão exigir empenho da diretora-presidente. Em reportagem publicada pela Gazeta do Povo no dia 8 de janeiro, no Caderno G Ideias, integrantes da OSP diziam que não há espaço para guardar instrumentos no prédio e o local para ensaiar é uma incógnita – os ensaios são realizados no palco do Guairão, que fica ocupado por outros profissionais quando o auditório é alugado, por exemplo, para um grande show. Monica leu as reportagens, tem noção dos problemas e avisa que, ainda em 2011, deve ser criada uma nova sede para a OSP, no centro de Curitiba, o que poderá resolver alguns dos impasses da orquestra.

Ainda no primeiro semestre, a OSP deve entrar em cena, já sob a regência de Osvaldo Ferreira, para apresentar, a cada mês, duas novas peças sinfônicas. Gerar conteúdo é uma saída para sacudir o CCTG, e isso também diz respeito ao Balé, agora sob a direção de Andrea Sério Bertoldi.

Mas essa necessidade de produzir espetáculos inéditos não deve se restringir aos corpos estáveis. Monica tem recebido a visita de atores, diretores, cenógrafos e outras pessoas ligadas às artes cênicas. Entre um cafezinho e outro sorriso, todos fazem quase o mesmo pedido: que o CCTG retome uma prática, de um passado distante, de bancar montagens. Monica afirma que, a partir de recursos da Lei Rouanet, será possível que o Teatro Guaíra venha a produzir espetáculos. “Para que esse espaço (CCTG) volte a pulsar”, diz.

O retorno da cantina, espaço que por anos aproximou a classe artística – reivindação do ator e diretor Maurício Vogue – não será possível, mas Monica dá como certa a licitação de um espaço, dentro do Guaíra, para que seja instalado um café. O miniauditório, por sua vez, será destinado a bate-papos com a finalidade de estimular o diálogo, o debate o pensamento crítico.

Monica já dirigiu a instituição, entre 1997 e 2000, e desde então deixou de conferir apresentações no Teatro Guaíra. “É porque eu tive e tenho muito amor pelo espaço. Sentia-me mal nos últimos tempos, quando houve desamor em relação ao Guaíra”, afirma Monica, consciente de que a sua missão não será nada fácil. “Eu gosto de desafios. Sei o que me espera”, finaliza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário