sábado, 12 de fevereiro de 2011

CINEMA: OPINIÃO DE EWANDRO SCHENKEL!!!


Cisne Negro é irregular. E funciona

A melhor coisa que Darren Aronofsky poderia ter feito se chama “Fonte da Vida”. Um filme exageradamente brega e pretensioso. Um dos tantos casos nos quais nada funciona. Um erro. O diretor nova iorquino que atualmente estampa um bigode (para ver o naipe do sujeito) era uma incógnita até então, pois havia feito somente um excelente longa, “Pi”, e outro um tanto quanto afetado, “Réquiem para um Sonho”. O terceiro trabalho serviria para consolidá-lo entre os bons nomes do cinema contemporâneo. Fracassou.

Por outro lado, com as expectativas em um nível mais baixo do que a dignidade de um ex-BBB, foi alçado ao topo com “O Lutador”, cuja sensibilidade o colocou certamente entre os cinco melhores filmes da primeira década deste milênio. Ver Cisne Negro, ovacionado pela crítica e entre os favoritos para o Oscar, o que realmente não diz muita coisa, era uma aposta das mais arriscadas. Qual Aronofsky teria dirigido o último filme, o da Fonte ou do Lutador? Um pouco dos dois (dã), acredito.

Cisne Negro peca pelo exagero. Também deixa evidente certas manias do diretor, como a perseguição dos protagonistas por uma câmera trêmula na altura do ombro. Um via de mão dupla. A escolha da câmera pode esconder detalhes relevantes como uma bailarina que não sabe dançar ou um lutador que não sabe lutar. Mas acaba expondo atores medíocres, como o caso de Natalie Portman, que vive uma bailarina para lá de loucona tentado achar o prazer da vida ao se libertar de toda a culpa que a cerca.

Em Cisne Negro, a história é menos sobre balé e mais sobre um diretor que tenta se encontrar. Darren Aronofsky sofre de uma bipolaridade conceitual, não consegue mais definir o que é arte e o que é exagero simplesmente e varia entre um e outro de forma frenética. Não se espera isso de um artista de ponta. Fica pendendo entre e uma Marina Abramovic e um Damien Hirst. Entre o branco, sensível e aprisionado, e o negro, libertador e inconsequente.

Seu último trabalho é prova cabal. Cisne Negro varia tanto quanto as dúvidas do diretor. Se consegue ser denso e mostrar várias nuances da protagonista, mesmo exigindo mais do que Natalie poderia dar, ao misturar a realidade com o subjetivo, peca ao dar muito destaque para coadjuvantes que estavam ali apenas pelo cachê. Com a exceção da protagonista, todo o elenco é plano, exageradamente plano. As intenções do diretor do balé, da mãe sufocadora ou da amiga perseguidora são evidentes desde o primeiro segundo na tela. Deixa espaço mínimo para a participação do espectador. Seria uma boa saída para destacar ainda mais a briga psicológica que sofre a personagem principal, se esta não fosse interpretada por Natalie Portman, a rainha Amidala, cuja a interpretação na última meia-hora deixa uma ímpar sensação de vergonha alheia. A sorte dela é que o filme todo desanda mais ou menos no mesmo momento.

No conjunto, o filme é bom. É uma mostra que o diretor poderá controlar o próprio cisne negro, deixando-se cair exageradamente no exagero, e nos entregar um filme, no mínimo, relevante. Mesmo que a história seja recontada e explicitada por diversas vezes, afinal estamos falando de um produto comercial destinado a grandes públicos, consegue prender para um final quase arrebatador (tentem não prestar atenção nas caras e bocas de bailarina para uma melhor experiência). A obra acaba lembrando o trabalho de Richard Kelly, esse sim gênio da raça e que consegue flertar com o brega sem perder a ternura. Talvez a esquizofrenia de Aronofsky acabe mais ajudando que atrapalhando. Dando até um certo estilo. Não sei. Fiquei em dúvida. O que também é bom.

Ps. Na comparação com os candidatos deste ano, parece-me um dos melhores e mais ousados do Oscar. Nos próximos posts, dividirei com os caros leitores mais algumas ampolas de sabedoria em prodigiosas análises. Promessa que será abortada se o Big Brother Brasil 11 decolar, pois Maria promete.

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