quarta-feira, 10 de março de 2010

ESPETACULO PROTAGONIZADO PELO OTIMO ATOR RANIERI GONZALES!!!


Cia. Brasileira prepara a estreia de Vida

Publicado em 10/03/2010 | Luciana Romagnolli
Fale conoscoRSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letraRanieri González tenta se lembrar dos 15 minutos que fizeram a diferença para o resto de sua vida, mas uma bobagem qualquer o interrompe. Na peça Vida, assim como na própria existência, são breves esses momentos em que o pensamento e o diálogo atingem alguma profundidade. Logo as demandas da realidade imediata e banal desviam a atenção da conversa, e é um tal de comentar o tempo, repetir velhas reclamações e discursos vazios.

Como o trivial domina as duas horas do espetáculo que a Companhia Brasileira de Teatro estreará no Teatro José Maria Santos durante o Festival de Curitiba, cabe ao diretor Márcio Abreu orquestrar os ritmos e intensidades que permitirão ao espectador enxergar além da superfície. É o que fazia no ensaio acompanhado pela reportagem da Gazeta do Povo: atento aos tempos, às pausas, pedia urgência a um ator, orientava todos a não sobrevalorizar brincadeiras de improviso.

Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini estão em cena atendendo pelos próprios nomes. Como na coletânea de biografias de Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trótski escrita por Paulo Leminski que os inspirou e batizou a montagem, os quatro atores cederam detalhes de suas biografias, colhidos principalmente em papos de bastidores por Abreu e remodelados no texto que guarda do poeta curitibano temas, estruturas e uma ou outra citação.

Cosmos

Rodrigo Ferrarini, professoral, oferece no prólogo de Vida os dois assuntos que fundamentam o espetáculo. Um deles é astral, a tentativa humana de ler sinais nas estrelas. Outro, a linguagem: como estabelecer um diálogo com alguém? Inevitavelmente, a montagem também adentra o imaginário cotidiano do curitibano, compondo de fragmentos uma reflexão sobre a cidade. Contraria, assim, a explicação dada por Ferrarini sobre a consequência de um buraco negro não emitir luz: “Não vemos de fora o que está dentro dele, percebe?”. O que se percebe é que não fala apenas do cosmos.

As cenas seguintes dão conta de apresentar a situação objetiva da peça – o ensaio de uma banda convidada a tocar nas comemorações do jubileu da cidade – e a inquietação de cada personagem. Para Ranieri, a questão é ir ou não embora, buscando escapismos nesse entremeio. Giovana é a que fica, até porque já foi e voltou. Nadja chega mais tarde, estrangeira, e ouve muito mais do que diz. Já Rodrigo carrega um ideal de elevação, que lhe tire os pés do chão.

Há na interação entre esses estranhos, reunidos apenas por ocasião do jubileu, uma tensão para a mudança. “Eu divido essa peça em duas partes”, diz Abreu. “Depois do segundo ensaio da banda, deixamos de ver essas pessoas só nas coisas mais banais e imediatas para ver a possibilidade de cada uma se deixar transformar pelo contato com as outras – e aquela que não deixa.”

Essa noção de metamorfose foi uma das marcas deixadas pela leitura de Catatau, de Leminski – as outras, o fluxo da narrativa e o sentimento de frustração. “Ninguém se resolve, ninguém se realiza, sempre se está no meio do caminho, não se chega ao fim”, diz Nadja.

Os ensaios foram retomados há poucos dias, depois de serem interrompidos em fevereiro por causa de uma viagem à França, onde a companhia apresentou escritos de Leminski ao público parisiense. Enquanto reaviva a memória do texto, seus sentidos, e as frequências envolvidas na montagem, Márcio Abreu também experimenta modos de encaixar em cena as novas músicas da trilha sonora criada por André Abujamra.

Até a estreia, no dia 19 de março, o grupo terá tido dez dias para ensaiar no próprio Teatro José Maria Santos. Vida continua em cartaz, pela Mostra Contemporânea, nos dias 20 e 21 às 21 horas. No fim de abril, volta ao mesmo palco para outra temporada breve, que começa no dia 30 e termina em 2 de maio.

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