quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

BRASIL NO OSCAR 2011!!!


Lixo e arte levam o Brasil ao Oscar

Codiretor de Lixo Extraordinário, o cineasta brasileiro João Jardim fala sobre a experiência do trabalho com os catadores, o artista plástico Vik Muniz e a indicação do filme na categoria de melhor documentário

“O lixo tem o poder de libertar, de fazer com que a gente procure algo que não sabe ao certo o que é.” É assim que o codiretor do filme Lixo Extraordinário, o cineasta brasileiro João Jardim define a experiência de ter participado da produção do filme indicado para o Oscar deste ano na categoria de melhor documentário. O efeito transformador e surpreendente do tema, aponta o realizador, também deixou marcas que devem influenciar seus trabalhos futuros, em especial quando se trata de “dar liberdade à história e garantir uma boa impressão nos expectadores”.

De férias em Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, onde está com a família, Jardim disse estar bastante gratificado com a indicação ao mais cobiçado prêmio do cinema mundial.

Lixo Estraordinário, em cartaz em Curitiba desde sexta-feira passada, mostra o trabalho do artista plástico Vik Muniz que fotografa catadores de lixo, depois usa os materiais do lixão para reconstituir os retratos, registra de novo com sua câmera o resultado e, desse processo, tira obras espantosas. Numa delas, um dos catadores, Tião, personagem marcante da comunidade de Jardim Gramacho (RJ), posa como o revolucionário Marat, assassinado em sua banheira por Charlotte Corday. O Marat negro, interpretado por Tião segundo a imaginação de Muniz, causa funda impressão no espectador.

O documentário mergulha, assim, em cheio na realidade brasileira e em suas mais duras contradições. O faz a partir da experiência de um artista também vindo da periferia – Muniz nasceu na periferia de São Paulo, filho de retirantes nordestinos –, mas que reside e faz sucesso no exterior.

A motivação do artista é retribuir ao seu país de origem parte do seu êxito internacional. Não faz mera filantropia. Os personagens do lixão, convertidos em artistas, participam desse sucesso. Viajam para exposições com o badalado Vik Muniz. Têm sua vida transformada por essa mesma alquimia que faz o dejeto virar arte. É comovente. Sem ser piegas. É real. Sem mistificar. Mas seria um olhar puramente brasileiro voltado a essa realidade e a esse processo de transformação?

“O material bruto do filme é brasileiro. A história se passa no Brasil, com personagens brasileiros e trata de uma realidade co­­mum entre a gente, que é a de pessoas que sobrevivem do trabalho com o lixo”, observa. Mas, segundo o cineasta, é a partir desse ponto que o documentário passa a contar com um diferencial: a visão da diretora britânica Lucy Walker, que assina o filme. “Ela conseguiu pegar essa coisa nossa e transformar em algo atraente também para o público estrangeiro, com uma linguagem universal. E o investimento inglês possibilitou que ele tivesse mais chances de viajar além das fronteiras brasileiras e ganhasse o mundo”, disse Jardim à Gazeta.

“A Lucy veio ao Brasil e iniciou o trabalho no Jardim Gramacho”, conta Jardim. “Ela ficou apenas dez dias e teve de ir embora para tocar outro projeto dela. Então eu assumi as filmagens e realizei cerca de 60% das cenas que são vistas na tela.” Por fim, a pernambucana Karen Harley (montadora de filmes como Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Baixio das Bestas, de Claudio Assis) assumiu e tocou o resto do trabalho. Por fim, o material seguiu pa­­ra o exterior e Lucy Walker o montou. “Ela teve o ‘final cut’ do filme e isso é fundamental.”

Cerimônia

“O meu maior sonho é produzir muitos filmes. A indicação e, quem sabe, a premiação podem garantir muitas oportunidades para que eu possa concretizar esse sonho”, comentou João Jardim ao lembrar que a produção conjunta com a Inglaterra teve grande influência no sucesso do documentário.

A produção se estendeu por três anos e custou cerca de R$ 3 milhões, sendo mais de US$ 1 milhão da inglesa Almega Projects e R$ 900 mil da brasileira O2 Filmes.

Detentor de 18 prêmios internacionais (confira quadro nesta página), entre eles os dos festivais de Sundance e de Berlim, e três nacionais, Lixo Extraordinário tem chances de também levar o Oscar. Para Jardim, independentemente do reconhecimento que já teve até agora, o filme merece a premiação pela questão da abordagem do mundo dos catadores. Concorre com o favorito Exit Through the Gift Shop, Gasland, Restrepo e Trabalho Interno, sobre as raízes da crise econômica mundial de 2008.

Em declaração à Agência Folhapress, Vik Muniz garantiu que irá participar da entrega do prêmio, em 27 de fevereiro, assim como os diretores: “Estarei lá, mas a pessoa que deve subir ali no pódio se o filme ganhar é o Tião. Isso para mim fecharia esse projeto com chave de ouro, fazer alguém que sai de Duque de Caxias ser visto agora por 1 bilhão de pessoas.”

Trajetória

Confira os principais prêmios já recebidos por Lixo Extraordinário:

Festival de Sundance (EUA)

Prêmio do Público de Melhor Documentário Internacional

Festival de Berlim (Alemanha)

Prêmio da Anistia Internacional (AI)

Prêmio do Público de Melhor Documentário – Mostra Panorama

Dallas International Film Festival (EUA)

Prêmio Target Film Maker – Melhor Documentário

Provincetown International Film Festival (EUA)

Prêmio HBO do Público – Melhor Documentário

Seattle Film Festival (EUA)

Prêmio Golden Space Needle – Melhor Documentário

Festival de Paulínia (Brasil)

Prêmio do Público de Melhor Documentário

Prêmio Especial do Júri

Vancouver International Film Festival (Canadá)

Rogers People’s Choice Award

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Brasil)

Prêmio Itamaraty de Melhor Documentário

Amazonas Film Festival (Brasil)

Prêmio Especial do Júri

Amsterdam International Documentary Film Festival (Holanda)

Prêmio do Público

Stockholm Film Festival (Suécia)

Silver Audience Award

International Documentary Association’s Awards (EUA)

Pare Lorentz Award

Marcos Labanca/Gazeta do Povo

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