segunda-feira, 22 de junho de 2009

A CRITICA DO AUTOR AO VER SUA OBRA NO PALCO!!!



"A PAIXÃO DE OSCAR WILDE"


"A Paixão de Oscar Wilde", segundo a concepção de seu diretor Wanderlei dos Anjos, é quase uma encenação religiosa, um autêntico ato de fé e esperança no trabalho teatral, que consiste em se comungar com o público o que se apresenta cenicamente.
Esta é a quinta versão de "A Paixão..." a que assistimos e, sem dúvida, a melhor. O que nos impressiona neste espetáculo é o cuidado, o carinho, o apuro de ourives com que a direção e o elenco se empenham em cada instante, em cada passagem, em cada cena. Daí a presença daquela energia vital e criadora que faz com que público e elenco se integrem, transformando a apresentação num verdadeiro rito teatral.
Seríamos injustos se destacássemos este ou aquele ator ou então se disséssemos que a direção domina o espetáculo. Como autor, ví e sentí um trabalho de equipe, de conjunto, uma sintonia direção/elenco/público.
"A Paixão..." não é, de modo algum, uma obra fácil de ser transposta para o palco. Além de cenas paralelas, em que passado, presente e "memória" se alternam, há todo um clima de repressiva época vitoriana a ser interpretado cenicamente. Daí a importância muito particular que, neste espetáculo, assumem a iluminação, os figurinos, a cenografia e a sonoplastia, aspectos do fazer teatral que, por vezes, o público não percebe a nível racional, mas sente a nível visual e emotivo. Esse "outro lado" apresenta-se muito bem resolvido, como muito bem resolvido está também a "seleção musical" que muito contribui para o "clima religioso" (no melhor sentido da palavra: a religião como ato de fé e esperança) do espetáculo.
Parágrafo a parte merece, sem dúvida, a forma original e expressiva com que o coro se apresenta em cena. Num tom crítico e sarcástico, as jovens coristas, muito expressivas inclusive a nível corporal, transmitem ao público toda a intolerância, todo o falso moralismo e hipocrisia da época vitoriana, em que a Inglaterra foi a "rainha dos mares", mas foi também, nas palavras de Wilde, "o paraíso dos hipócritas".
Gratificante. Uma gratificante obra de arte!...

MURILO DIAS CÉSAR

CURITIBA, JUNHO DE 1.994.

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