sexta-feira, 10 de julho de 2009

MARIUSA BREGOLI EM SALOMÉ - ANALISADA POR LUIZ VARINI


II FICA – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CASCAVEL
23º FESTIVAL DE TEATRO
ANÁLISE
PEÇA: A Solidão de Salomé
GRUPO: Cia. Mariusa Bregoli
CIDADE: Campo Mourão
TEXTO: Manoel Serbêto
DIREÇÃO: Pedro Ochôa

Reconhecer no mito de Salomé, a mulher passional que ao ser rejeitada pede a cabeça de seu desejado, por si só já é um grande desafio que denota diversas referências daquilo que buscamos enquanto seres que almejam e desejam, e que diante de tais circunstâncias não relevam as conseqüências, preferindo a perda, a vingança, a morte em detrimento da preservação de desejos não consumados. Quanto a encenação, a montagem da Cia. Mariusa Bregoli prima pela beleza cênica, pela estética através de seus elementos narrativos que conduzem o espetáculo à ambientação necessária para se contar a história, destaque especial à iluminação muito bem resolvida que além de ser funcional cria o clima necessário e não simplesmente demarca o espaço, assim como a cenografia que em total sintonia com a proposta cênica cumpre com o seu objetivo, idem à sonoplastia. Claro, o destaque principal fica por conta do vigor, da força, da energia, da técnica e do domínio perfeito das nuances corpóreas expressadas em coreografias de rara beleza pela intérprete Mariusa Bregoli que, oriunda da dança, consegue com maestria nos transmitir toda a verdade teatral a que se propõe. Muito bem elaborado o figurino que além de permitir liberdade de movimentos à personagem nos transmite simbolicamente em formas de ataduras que amarram, protegem, curam, sufocam e revitalizam como se representasse a troca da própria pele para começar, recomeçar, clamando fisicamente pelo esquecimento do recente passado. Há de se tomar alguns cuidados com elementos essenciais para a condução da narrativa, por exemplo: Como utilizar a “bola Pilates” sem que a mesma não seja tão evidenciada como tal. Quanto ao uso da palavra falada, a intérprete necessita buscar um maior equilíbrio, maior aproximação com o corpo para que não tenhamos a sensação de duas situações díspares na mesma personagem, quase dicotômicas entre a voz e o corpo, essa aproximação há de se buscar na composição da personagem para eliminar os entrecortes, as micro-transições existentes que causam ruídos ao fluxo narrativo da frágil dramaturgia. Mariusa Bregoli possui um belíssimo timbre de voz e não há a necessidade de alterar o seu registro vocal para interpretar a personagem, basta descobri-la em si mesma, e em todas as suas intencionalidades, com nuances, cores e interjeições que darão a riqueza que a intérprete possui e merece. Parabéns pela montagem e pela ousada proposta, digna de nossos aplausos. Luiz Varini

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