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quarta-feira, 1 de julho de 2009
AS VIVANDEIRAS E A ANÁLISE DO AUTOR AO VÊ-LA NO PALCO!!!
ALCEU SPERANÇA - HISTORIADOR E AUTOR DE "AS VIVANDEIRAS"
MEUS ANTI-HERÓIS E OS NOSSOS HERÓIS!!! Gente doida, essa que faz teatro. Eles poderiam ter rebuscado um velho baú empoeirado. Dali tirariam uma peça esquecida, embora de autor famoso por já estar morto - pois a morte diviniza uns e torna gênios outros.
Com a peça de autor morto e célebre, o pessoal da ACPT (Associação Centro de Pesquisa Teatral), poderia fazer a montagem de acordo com sua própria ótica, atualizá-la e virá-la pelo avesso, como se faz com todos os Shakespeares disponiveis, sem correr o risco atroz e desgastante de ter o autor na primeira fila, melindroso e à beira de um chilique toda vez que alguma fala não saísse com a tonalidade que ele imaginou ao escrever o texto.
Com peça de autor morto e famoso, a ACPT poderia ganhar prêmios pelo mundo afora, pois é gente muito boa e experimentada, apesar de jovens, e teriam no próprio texto e no fantasma célebre do autor morto uma ajuda do além para amealhar ainda mais conquistas. Mas essa gente maluca se decidiu pelo mais difícil e doido: encenar uma peça de autor vivo, risco a que bem poucos mesmo entre os loucos de pedra da arte teatral se atrevem a correr. Afinal, existem raríssimas peças realmente boas de autores vivos. E existem fantásticas idéias de autores mortos ainda virgens de palco, reclamando montagens consagradoras.
A maluquice da ACPT, antes que esqueça, é encenar minha peça "As Vivandeiras". As Vivandeiras eram as companheiras dos soldados revolucionários que seguiram a Coluna Prestes e que por sua coragem, competência e amor ornaram de vitória e invencibilidade a maior marcha militar revolucionária de todos os tempos.
Wanderlei dos Anjos, foi ainda mais longe. Conseguiu patrocínio da Petrobrás e do Governo do Estado do Paraná para uma peça anarquista, cética, desconfiada e provocativa. Não sei que tipo de magia ele fez para que gente tão exigente aprovasse o texto e conferisse ao grupo o primeiro prêmio que a ACPT merece pela montagem, pois obter patrocínio é a primeira glória de qualquer peça teatral num País em que a cultura é tão espezinhada e oprimida - Confúcio dizia que se sabe como um país é governado pela cultura de seu povo. É fácil conferir, portanto, como estamos de governo!
Não vou ter melindres nem chiliques na primeira fila, mas não posso deixar de mencionar/denunciar o pessoal que está cometendo essa loucura de deixar sua vida de lado para se dedicar a pôr em cena meus personagens: Miriane Scussiatto e Elza Dolejal, que encarnam as protagonistas Maria Anta e Maria Mata; Marcos Maciel (Emilio Cerroni e Ênio Natele); André Dutra (Fernão Madruga e Inocente de Castilhos); Wellington Dallaqua (Kretã Porã); Lair Vieira Junior (Antonio Gringo); Carlos Cardoso (Heinz Hesse); e Douglas de Lima (Jacob Polaco). E mais: Simone Pontes (concepção de cenário, ao lado do diretor Wanderlei dos Anjos); Nelson Josefi (execução de cenário); Ricardo Denchuski e Alexandre Fiúza (trilha sonora original); Mariane Sguissard (figurino); Rosane Gonçalves (preparação corporal e coreografia); e a Criart-Teatro e Moda (produção).
Essa gente, heróis do teatro brasileiro da atualidade que põem no palco os anti-heróis da história paranaense e brasileira, já me fez chorar. espero que provoquem esta e muitas outras emoções nos espectadores que encontrarem pelos palcos da vida.
CASCAVEL, 02 DE JULHO DE 2003.
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