sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

PINA BAUSCH VOLTA À CENA TEATRAL LATINA!!!


Última criação de Pina Bausch é destaque em Santiago
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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo, em Santiago

A última criação da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), "...Como el Musguito em la Piedra, Ay Si, Si, Si...", que estreou três semanas antes de sua morte, em junho do ano passado, é o grande destaque do Festival Internacional de Teatro Santiago a Mil, que ocorre até o fim de janeiro na capital chilena.


Realizada no sistema de coprodução, que o Tanztheater Wuppertal de Bausch utiliza desde 1986, o espetáculo foi criado após três semanas de residência da companhia no Chile, que incluiu estadas do deserto do Atacama, no norte do país, à Patagônia, no sul.

O palco todo branco, novamente assinado por Peter Pabst, em alguns momentos do espetáculo rachava em pequenas plataformas, como placas de gelo que se deslocam umas das outras, quando cenas mais intensas estavam ocorrendo. "É o meu cenário mais minimalista", disse Pabst em Santiago.

Menos enérgico e muito mais seco que "Água", espetáculo brasileiro criado em 2001, "...Como el Musguito..." tem seu nome emprestado de um dos versos da canção "Volver a los 17", de Violeta Parra, que na produção é ouvida na versão de sua compositora, durante o solo de Tsai-Chin Yu.

Montada por meio de cenas que intercalam dança e texto, como Bausch praticava há décadas, sua última produção é tão leve quanto as demais criações recentes, sem deixar de abordar a questão central que a coreógrafa pesquisou desde o início de sua carreira: as relações humanas.

Um bailarino caminha em direção a uma bailarina, beija-a com paixão, mas leva um tapa após o rápido momento de romance. Ela sai, mas volta na direção dele e agora é ela quem inicia o beijo. No fim, espera-se que ele revide o tapa, mas é em si mesmo que o bailarino tasca o sopapo final. Típica célula de Bausch, esse momento irônico aponta para amor e ódio, que sempre se revezaram no palco da alemã.

Sobre o Chile, há muitas citações: bailarinos bebem água o tempo todo, referencia às temperaturas desérticas do país; olham para o céu como se estivessem no vale da Lua, no Atacama; brincam com rolhas e garrafas de vinho vazio.

"...Como el Musguito..." deve rodar o mundo a partir de outubro. No próximo mês de julho, encerra-se a temporada programada por Bausch. A partir de então, a companhia começa de fato sua nova gestão, com Dominique Mercy e Robert Sturm à frente.

Em Santiago, o produtor Emilio Kalil, fechou uma temporada de três semanas no Brasil, em abril do próximo ano, em que deve constar dois espetáculos: "Ifigênia em Tauris", criação de 1974, que foi apresentada no Rio em 1997, e outra a ser definida.

"Estamos acertando "Ifigênia" como uma das principais peças para a comemoração do centenário do Teatro Municipal de São Paulo", confirmou Lara Pinheiro, assessora de dança da secretaria municipal de Cultura.

Com 42 espetáculos no repertório, criados a partir de 1973, quando Bausch passou a dirigir o Tanztheater Wuppertal, a companhia agora tem como desafio manter os espetáculos não só com a mesma técnica mas com a mesma intensidade e frescor de quando a coreógrafa supervisionava. É uma tarefa difícil, mas possível, como se viu no Chile.

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