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domingo, 23 de maio de 2010
AS MADRUGADAS DE EDSON BUENO!!!
A DESCOBERTA
Nunca é tarde para a ignorância e também nunca é tarde para a luz, nem que pequena, breve, suave e simples; a iluminar a escuridão da nossa arrogância. Nas minhas viagens noturnas (não insones!), comecei a declarar meu amor por Maria Bethânia, ouvindo suas interpretações que me arrepiam mais que a pele, a contrapele (existe a tal?). Claro que existe, pois arrepia. E fico ouvindo e ouvindo e ouvindo-a cantar “O Céu de Santo Amaro”, por exemplo. “... a força desse amor nos invadiu, com ela veio a paz, toda a beleza de sentir, que para sempre uma estrela vai dizer: simplesmente, amo você...”. E como, marca registrada, quando estou aquecendo a voz antes de cada espetáculo, canto a plenos pulmões (não desafino, garanto!) “Sonho Impossível”, a versão de Chico Buarque para o tema principal do musical “O Homem de La Mancha”, resolvi lembrar de Maria ouvindo-a. Ela é única, embora Richard Kiley tenha imortalizado sua interpretação. Mas é carne de vaca, não? Há versões maravilhosas com Elvis Presley, Jack Jones, Brian Stokes Mitchell , Donna Summer e até uma, linda, cantada com alma, por um garoto que ganhou o programa “Ídolos” em Israel: Harel Skaat. Pois, antes de cantar “Sonho Impossível”, no show ”Maricotinha”, Bethânia recitou um pequeníssimo poema. E fui descobrir seu autor, de tão suave e sincero. Uma autora. Uma portuguesa, que talvez todos vocês conheçam, mas a ignorância a tinha escondido de mim todos esses anos! Sophia de Mello Breyner Andresen, que nasceu no Porto e faleceu em Lisboa, aos 84 anos, em 2004. Foi tão importante! Foi eleita para a Assembléia Constituinte em 1975, após a Revolução dos Cravos, foi contista, autora de livros infantis e membro da Academia de Ciências de Lisboa. Em 1999 recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura portuguesa. E fiquei, madrugada adentro, conhecendo e reconhecendo a senhora Sophia. Eu, que também amo Fernando Pessoa, vi tanto dele, nela, mesmo que pouco se pareçam. Talvez coisa minha, mas não importa. Importa que lendo seus versos, por diversas vezes me emocionei às lágrimas. Ando emotivo, sei lá por quê! E perto das quatro da madrugada fui contemplá-la em imagens, fotos de sua juventude, maturidade e velhice. Tão elegante, tão plácida, tão poeta! E me despedi de Dona Sophia, para dormir triste por saber que já morreu, antes mesmo que eu tivesse sabido dela e tivesse feito aquele silêncio de homenagem que sempre faço em meu coração, quando morre alguém que admiro muito. Como se me despedisse de alguém que nunca conheci. Prometi pra mim mesmo ir atrás de alguns livros seus e lê-la mais e mais, até compensar meus tempos de ignorância!
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Escrito por Edson Bueno às 01h25
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Ninguém realmente morre,apenas se passa para uma dimensão muito mais sutil,que não pode ser captada por sentidos tão limitados como os nossos,embora algumas pessoas tenham uma predisposição física que as permite enxergar o invisível que nos rodeia e sempre nos rodeará.Dona Sophia,maravilhosa como era e é,devia ter algum entendimento mais profundo com relação à esse assunto,visto que ela tratava constantemente com esse mesmo invisível,que são os sentimentos que habitam o ser de todas as pessoas e do universo.Fernando Pessoa,Nietzche,Kardec,Freud,Jung,também tinham esse dom.O nosso passado,aqui na Terra,está todo guardado no nosso inconsciente e muitas vezes se manifesta através de símbolos nos nossos sonhos,e embora sejam desmerecidos pela grande maioria,vai muito mais além.Nos resta a intuição e a grande pergunta:"De onde viemos?"Eis o mistério que habita o ser humano e que faz surgir a fé,como meio de conhecimento e crescimento.A busca mental é urgente e decisiva como expansão do nosso auto-conhecimento.Sem perguntas não chegaremos à nós mesmos."O mar azul e branco e as luzidias pedras(...)Onde o que está lavado se relava.Para o rito do espanto e do começo.Onde sou a mim mesma devolvida.Em sal,espuma e concha regressada.À praia inicial da minha vida," Grande ensinamento da Dona Sophia,declamado pela fantástica Bethânia.Talvez nesses versos esteja contida uma resposta de que nada se acaba,apenas retornamos,enfim,à nossa verdadeira,divina e imortal essência.
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