quinta-feira, 13 de maio de 2010

EDSON BUENO ANALISA ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS!!!


EMBORA NÃO TENHA NADA A VER COM LEWIS CARROLL...

... “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton tem lá suas qualidades, poucas, mas tem. O melhor do filme são os personagens e a sua composição, digamos assim, pictórica; porque convenhamos, neles é possível imaginar que Tim Burton tinha (ou teria?) ideias interessantes para explorar num filme, mas definitivamente, entreguou-se de corpo e alma ao “stablishment” e vendeu a alma. Hoje é um diretor que não tem pudores em reduzir tudo ao óbvio para conquistar bilheterias e conseguir altas granas para delírios visuais. É isso. O filme é uma redução, digamos assim “talentosa” do livro. Nem dá pra dizer que é uma adaptação porque não é. É uma utilização dos personagens de Lewis Caroll para uma outra história, bem comum, banal, básica e óbvia. Enquanto tudo vai sendo construído e a força da imaginação é a receita, até que o espírito da reflexão sobre a fantasia e a loucura convencem. Ainda um pouco, quando também o espírito do nonsense desenfreado parece dar as caras, o universo de Tim Burton parece se entrelaçar ao universo de Lewis Carroll. Mas quando, do meio pra frente, a história tem que fazer sentido, tudo vira o rame-rame da receita hollywoodiana e o melhor é substituído pelo pior. É quando assume a cena o vilão sem graça e óbvio e é quando tudo se completa na famosa batalha dos exércitos do bem contra o mal, que já estamos carecas de assistir em “O Senhor dos Anéis”, “As Crônicas de Nárnia” e outros filmes menos cotados. É quando aparece o dragão assustador (nesse filme nem tanto) roubado de “A Bela Adormecida” e tantos outros filmes do gênero e é quando Alice vira o herói mais óbvio e sem convicção. Tudo perde a graça, já que o princípio da imaginação, vivo e poderoso na literatura de Carroll e pregado pelo início do filme, dá lugar a clichês óbvios que refletem justamente a falta de imaginação. O nonsense é substituído pelo moralismo e o que era loucura vira receita de como viver “sua própria vida”. Uma pena, porque, sucessos à parte, já não se pode esperar muito de Tim Burton. Daqui a pouco ele vira um chato de verdade, que acredita que imagem é que é arte e não elaboração de ideias. Orson Welles disse que a imaginação é mais importante que o conhecimento e Tim Burton com sua “Alice no País das Maravilhas” prova que a imaginação é solapada pelo conhecimento da fórmula de “encantar” multidões. É um filme belo e Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway são brilhantes; enquanto algumas composições em animação como o Coelho Branco e o Gato de Ceshire são encantadores; mas o filme, por sua redução e comprometimento, não trancende e a sensação após o seu final é do mais profundo vazio. Ah, que saudade de “Edward Scissorhands”, “Ed Wood” e “Beetle Juice”. Fazer o quê? E um último comentário, sobre o 3D: diria que nesse filme, atrapalha.

Escrito por Edson Bueno às 01h17

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