quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ARQUITETURA E PINTURA NO MON!!!


O arquiteto pintor

A modernidade dos projetos arquitetônicos divide espaço com pinturas, desenhos e esculturas na exposição dedicada a Le Corbusier, no Museu Oscar Niemeyer

Publicado em 15/12/2009 | Luciana Romagnolli

O Museu Oscar Niemeyer recebe obras da maturidade de um dos definidores da arquitetura do século 20, o suiço Le Corbusier (1887-1965). Entre as 140 peças que chegam da fundação parisiense dedicada a ele para compor a exposição Entre Dois Mundos a partir de quarta-feira (16), são esperados trabalhos arquitetônicos, mas também uma série de litografias, esculturas, colagens e, sobretudo, pinturas que expõem um artista com domínio de outras linguagens expressivas além da arquitetura moderna que o consagrou em companhia de Frank Lloyd Wright e Mies Van der Rohe.

A pintura pode ser vista como uma chave de leitura para sua produção arquitetônica. “Le Corbusier costumava dizer: se quiserem entender a minha arquitetura, têm que olhar as minhas pinturas”, recorda o curador da mostra, Jacques Sbriglio. As telas pintadas pela manhã funcionavam como um laboratório de pesquisa de formas que seriam aproveitadas no desenho de arquitetura ao qual se dedicava durante as tardes.

Quanto ao fato de a pintura ser tomada como espaço de experimentação por um arquiteto reconhecido pela valorização da funcionalidade, Sbriglio explica que, para Le Corbusier, a forma antecede a função: “Se você olhar os arquitetos da modernidade, como o Le Corbusier e o alemão Walter Gropius, da Bau­­haus, os dois se preocupam com a função. Mas, para Le Corbusier, existe quase uma autonomia da forma e essa é uma contradição muito interessante dentro da obra dele. Ele dizia que a arquitetura é uma máquina para ser habitada, mas também tem que ser uma máquina para emocionar.”

As pinturas são “impactantes”, afirma o curador, contudo, ao eleger um destaque entre o acervo apresentado em Curitiba, retorna à arquitetura e menciona os desenhos originais da capela de Ronchamp. “É o verdadeiro projeto de ruptura na obra de Le Corbusier, a primeira grande encomenda depois da guerra, junto da unidade de habitação de Marselha”, diz.

A Segunda Guerra Mundial que atinge a França produz efeitos também sobre o pensamento do arquiteto, deflagando uma fase considerada como sua maturidade produtiva, entre 1945 e 1965. São desse período final da vida de Le Corbusier (ao qual a crítica batizou de “brutalismo”) as peças reunidas na exposição, que encerra as comemorações do Ano do Brasil na França depois de passar por Brasília e Rio de Janeiro. “É o momento em que Le Corbusier começa a distribuir uma maior quantidade de recursos relacionados à plasticidade, como o concreto armado bruto como expressão plástica”, diz o curador.

Anos antes, o Brasil marcou a produção do suiço, que aqui esteve várias vezes entre 1929 e 1960. A visita de 1936 foi a mais significativa: sobrevoando o Rio de Janeiro de zepellin, Le Corbusier observou a paisagem de um outro ponto de vista e repensou as suas relações com a arquitetura em grande escala. O clima foi outro fator que o influenciou. O quebra-sol (brise-soleil), uma estrutura pensada para impedir a incidência direta de raios solares para reduzir o calor no interior de edifícios, viria a se somar ao pilotis (construções suspensas), à planta e à fachada livres, ao terraço-jardim e à janela em fita como os pilares da sua arquitetura.

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