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domingo, 1 de novembro de 2009
EDSON BUENO, VÊ PAULO DE MORAES E MAURICIO VOGUE!!!
A MEDIDA DO PRAZER
Os atores fazem. “E fez-se o verbo!” Pode-se brincar com as palavras e dizer: “fez-se o ator”. Porque eles caminham pelo palco, ora lentos, ora rápidos, ora com os músculos rígidos, numa in-tenção carregada de presença, ora saltam serelepes, ora choram e gritam e dizem qualquer coisa (que é a palavra/linguagem!) com a certeza de deuses mitológicos! Ora dançam leves e pesados, e às vezes fingem que dançam, porque não dançam, mas dançam. Vão preenchendo o espaço com ideias em forma de harmonias e atonalidades; e acertam em cheio, quando criam mundos e se entregam à fantasia. Acontece sim, um teatro além da racionalidade e longe da afetação egocêntrica. Um teatro para o público! Fui assistir a dois espetáculos completamente diferentes (ainda bem!), neste final de semana: “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues, com direção do Paulo de Moraes, e “Cinderela”, um espetáculo para crianças, com direção do Maurício Vogue. Encantei-me com os dois. E toda vez que penso que não gosto de teatro (como espectador), me surpreendo de sorriso largo e felicidade, diante dessa gente, que dança na loucura e toca a quarta dimensão, como disse uma vez o Dr. René Dotti! Mas falo dos atores, quando penso também nos diretores (os dois!), competentíssimos e artistas até a última raiz de cabelo. O Paulo consegue a proeza dificílima de inventar um novo espaço, um novo tempo, uma nova realidade, além da compreensível e permitir aos seres, os atores/personagens, recriarem absolutamente tudo o que é humano. A humanidade em tintas fortíssimas. Artística! O teatro numa essência expressionista! O espetáculo dá a Nelson Rodrigues e sua palavra, a real e subjetiva dimensão do trágico, do patético, do cômico, do cínico, do violento e do belo! É um furacão de beleza e um vórtice de feiúra! Patrícia Selonk está acima dos mortais, porque inventa uma Geni, que nos faz esquecer a criação eterna de Darlene Glória, mas não por isso, e sim, pelo toque de paixão, doçura, inocência, demência e pureza que desfila em cada gesto, palavra e ação. Entre as paredes do tempo (num cenário belíssimo!) e a luz do calor e da crueldade, “Toda Nudez Será Castigada” é o inferno! Pois bem, isso foi na sexta-feira, porque no sábado fui ao Teatro Regina Vogue ver o teatro para crianças (há muito que, na cronologia, não sou mais, porém, esperto, sou sempre... na inocência!) e à medida em que “Cinderela” evoluía, eu ia me refestelando na poltrona, pleno de prazer com um elenco que montava e desmontava cenas, vivíssimos, crentes de que a história de Cinderela é um divertido pretexto para a farsa e para a diversão. Em resumo, o elenco faz e acontece! Tomam conta do teatro como tem que ser e, em mínimos espaços de rígida coreografia, criam e transformam palavras, sons, movimentos e cantos em novidades coloridíssimas, de encher os olhos! Eu diria que é teatro adulto para crianças! Ou seria teatro para crianças feito por adultos crianças? “Crianções” seria a palavra exata! E percebe-se que a magia não passa apenas pelo espírito artístico (que o Maurício e seu elenco têm de sobra!), mas também pelo espírito brincalhão! É a história infantil que todos conhecemos, desprovida de preconceitos e pretensões. Enfim, foi um final de semana de puro prazer. Fecho meus olhos para dormir de mais um domingo, pleno de felicidade, porque dois espetáculos me dão a certeza de que o teatro continua vivíssimo! No palco e no meu coração!!!
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