quinta-feira, 15 de julho de 2010

A DANÇA EM "O PAGADOR DE PROMESSAS"!!!


Pagador de promessas
Vindo de Recife, o grupo Experimental recria os sentimentos de fé e sacrifício envolvidos na festa do Morro da Conceição, no palco do Sesc da Esquina

Para criar o espetáculo de dança Conceição, que apresenta hoje no Sesc da Esquina, o grupo Experimental entrevistou frequentadores da popular festa do Morro da Conceição, em Recife. Gente que sobe quilômetros de joelhos no asfalto para pagar uma promessa. Um rapaz até virou celebridade. Ao ser avistado na ladeira, todos abrem caminho para deixá-lo passar “a nado”: se arrastando pelo chão com movimentos de braço, só de calça jeans, sem camisa.

“É incrivel”, diz a coreógrafa e diretora da companhia, Mônica Lira. Ela e mais oito bailarinos estudaram a fundo os sentimentos e os movimentos envolvidos no festejo religioso, que celebra o dia de Nossa Senhora da Conceição – 8 de dezembro, feriado local. Sem ser oficialmente a santa padroeira do Recife, se tornou objeto de devoção dos fiéis, atraindo uma multidão para o alto do morro, do pedinte ao governador.

“As pessoas vão para pagar promessas, pedir e rezar. Acontece missa de hora em hora, milhares num pátio ao ar livre, ao mesmo tempo em que há vários bares em volta onde se bebe e dança. São sentimentos bem diferentes. Mas, por mais que seja conturbado o ambiente, com muita poluição sonora e visual, todo mundo respeita seu lugar e sua vontade”, descreve a coreógrafa.

Extasiados

Sua intenção nunca foi copiar para a cena o que se vê durante o festejo. Queria carregar o espetáculo com as emoções que os bailarinos experimentaram por lá ou que ouviram nos depoimentos dos frequentadores. “Ficamos simplesmente extasiados e tocados com tanta informação, sentimento e sofrimento”, diz Mônica.

Ela compara a realidade pernambucana à que vê de passagem pelo sul brasileiro. “Aqui, por mais que haja festas religiosas, as pessoas não têm essa prática de pagadores de promessas, como temos lá.”

Nem por isso, diz a coreógrafa, o diálogo com a plateia desse canto do país fica comprometido. “É um espetáculo que envolve qualquer público, independente de ter ou não referências daquele ambiente. Não tem a pretensão de levantar bandeira para nenhuma religião, só levanta algumas questões: o que nos sustenta na vida, o que é nosso alicerce e nos faz caminhar, o que tem a ver com a questão da fé.”

A música foi composta por Thomas Alves Souza, autor recifense de trilhas sonoras para cinema. Ele aproveita trechos de som original extraído da festa e mistura ritmos. Na abertura, piano. Num momento de sincretismo, soam tambores.

Giratório

Pela primeira vez no Palco Giratório, promovido pelo Sesc, o grupo Experimental está tendo a chance de rodar bastante. De Curitiba, parte diretamente para Boa Vista, em Roraima. Além de Conceição, tem viajado com outro trabalho do repertório, Zambo (1997). Inspirado pelo movimento mangue beat, voltou à ativa no ano passado, comemorando 15 anos de grupo, mas não será apresentado em Curitiba.

Embora saiba que a distância até as grandes capitais atrapalhe o trânsito dos grupos pernambucanos pelo território nacional, Mônica considera Recife um dos grandes centros de dança no país.

Ela cita o Festival Internacional de Dança do Recife (FIDR), realizado há 14 anos, entre os quatro maiores do Brasil, ao lado do FID de Belo Horizonte, da Bienal de Dança de Fortaleza e do Panorama de Dança, no Rio de Janeiro. “Eles trazem companhias nacionais que circulam pelos quatro eventos e impulsionam a cena artística com fomento, oficinas, espetáculos e discussões”, comenta.

Serviço:

Conceição. Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3322-6500. Com o grupo Experimental (PE). Dia 15, às 20 horas. Classificação indicativa: 16 anos. Entrada franca. Veja um clipe dos principais espetáculos do grupo Experimental (clique aqui).

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